DUAS TERRAS DE AQUI
É como se fossem dois planetas: um olhando pra
cima (aonde?), outro para baixo (aonde?). Um vê o outro, mas o outro não vê o
um. O outro está preso à terra, materrea, o um mira a Terrah... um lugar
inexistente, somente presente na mente dos crentes, diferente.
As crianças estarão nele, os loucos, os
santos, os embelezados de amor, puro. Os que não se deixarem levar levarão um
barco qualquer, uma nave mental e tal, tal coracional. Um universo a mais, uma
presença para o amigo, uma palavra, um abrigo, um abraço fraterno, terno.
Um beijo azul, uma transparência
intransparente, um sem medo qualquer. Uma tragicomédia grega, lusa, brasílica.
Um osso duro de roer, uma sensação de ambigüidade, uma verdade encoberta, um
cobertor de plástico, a frieza nas mãos, a desatenção, o desalento. Um momento
então no ar que nos liberte de nós, assim feito nós. Emparelhados, mas, lado a
lado?
A tinta negra pinta cinzas da escuridão, uma
ebulição, um trombone. Um ponto final, sem juízo fatal, sem perigo depois do
salto pro alto, um assalto de cor ação, uma benção, um axé, uma oferenda
infinda, cheia de lágrimas, água sal e risos.
Fazia falta um rio, uma ruptura, um riacho
doce antes do almoço, um esforço com
força, um desgosto, um despertar, um acorde poesia, um beba do samba, uma
mensagem.
Nas profundezas dos risos a paixão inusitada
pelo inconcluso, o obtuso, a prescrutância, a jactância e a simplicidade no
existir, o miserê dos deuses, a
exuberância das dores, flores do amanhã, que não secarão de manhã. Regarão, serão regadas, carregadas
inivisíveis indivisíveis nas mãos de um poeta, um profeta embriagado, um
bemaventurado qualquer um.
De aqui de uma Terra a outra dá pra muito céu
ver de entardecer. A gente precisa crer para ver.
Luis César de Souza,
autor de "Música Muda"
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