quarta-feira, 9 de outubro de 2013

AGNI - O FOGO SAGRADO - 3



AGNI - O FOGO SAGRADO - 3                                                                         
                                        
                       PROF. HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA 


                Apolo é o deus da Poesia e da Música, e, como tal, o Pai das Artes e das Musas. As flechas saídas de seu inspirado peito são mais certeiras do que as de cupido, cujos olhos vendados não podem perceber que uma delas fere o coração de sua própria Mãe, Vênus, já que esta representa o próprio Espírito da Terra. Daí a frase dos Elohim: "Multiplicarei as tuas dores. Com dor parirás os filhos. Maldita seja a Terra em sua obra: espinhos e abrolhos ela produzirá. (Gênesis II vers. 16/17)
                Cupido não é outro senão o Augoeides neo-platônico, ou o Eu-Consciência-Imortal, do mesmo modo que Atmã, o Sétimo Princípio, Cristo, etc., da própria Teosofia, como também, o Sétimo ou último estado de Consciência que a mônada é obrigada a alcançar na Terra. Razão porque esta, como Mãe de Cupido, segundo a Mitologia, foi a primeira a ser ferida no peito, pois a Terra é o lugar de sofrimento ou depuração para a própria Mônada.
                A Mitologia nos diz, ainda, que as flechas de Apolo são a emanação da sublime beleza. E que foram temperadas, docemente, no coração do deus, a Ele volvendo, para serem purificadas e prontas novamente a disparar, em contínuo vai-e-vem, como o próprio "vai-e-vem" das marés, das várias encarnações do Ego. Por isso mesmo, podendo-se conceber tais palavras como o maravilhoso símbolo do impulso da Vontade Criadora, para que se realize a salvadora     evolução.
                O Amor é uma chama ardente desse Fogo imortal. Tudo arde, inflamado por essa chama. O corpo humano vive pela contínua combustão, que nele se realiza. O próprio Hipócrates, já procurava curar as moléstias, por meio do fogo. E hoje, a diatermia está em franco uso.
                A febre é um aumento do Fogo, que se esforça por queimar as escórias perturbadoras do organismo. Quando o corpo  não as pode vencer e o excesso de fogo se vê impossibilitado de destruir tais escórias, o calor ou febre aumenta de tal forma que o organismo, não mais podendo resisitr, morre.
                Repito, o Amor é uma chama do Fogo Divino, pelo qual nascemos, crescemos e nos transformamos.
                O mesmo sucede com a Natureza: vemos brotar uma flor, que depois de alguns dias ostenta suas formosas cores, para logo perfumar o ambiente que a cerca. Uma força interna impulsiona, tal como a energia de um motor  impulsiona toda a engrenagem de uma máquina. Porém tal energia, é algo expansiva; é a essência do Fogo, não daquele que encerramos num foguete, que explode em maravilhoso espetáculo, deixando espaço cravejado de lágrimas multicores, muito menos o das metralhas, que destrói a vida de inúmeras criaturas... Mas o de seu Divino  Pai: o Fogo Celeste.
                Esse foi o Fogo roubado por Prometeu, o titã rebelde, acorrentado no cume de uma montanha, para que os abutres se cevassem nas suas entranhas. Aquele mesmo que, ainda hoje, não perdeu a Fé, por saber que é partícipe da natureza dos deuses, já que Prometeu é a própria Humanidade, acorrentada nos grilhões de sua contumaz inconsciência. Ele possui, portanto, o direito à Imortalidade, a qual, ninguém, nem mesmo Deus lha pode negar.
                Prometeu, segundo a Mitologia, nos ensina o desprezo pela dor, e a necessidade do esforço, a fim de alcançarmos a libertação. E daí nos cingirmos com a Coroa do Divino Fogo, a mesma que circundava a fronte de Moisés, quando  desceu do Sinai, após haver contemplado a Luz, face a face. Esse fogo é o mesmo que, "em línguas de Fogo, no dia de Pentecostes (segundo a adaptação que a Igreja fez dos misteriosos símbolos da antiguidade) desceu sobre os apóstolos". E isso, dentro da sentença oriental: "quando o discípulo está preparado o Mestre aparece". E tal Mestre, não é outro senão a própria Consciência, adormecida no imo de todos os seres; aquela mesma que, nos Contos de Fadas, se acha com toda a sua corte, adormecida em plena floresta negra (ilusória, ou de ignorância), adormecida, à espera do príncipe encantador, que a venha despertar de tão amargurado letargo...
                O Alquimista João Tritamo, instrutor de Cornélio Agripa, abade dos beneditinos de Spanheim, dizia:
                "Deus é um Fogo essencial e aceso em todas as coisas, e principalmente no homem. Deus é Fogo; porém, nenhum fogo pode arder, nenhuma chama pode brilhar no seio da Natureza, sem que o Ar ative a sua combustão. Nesse caso, em nosso interior deve agir o Espírito Santo, como o AR ou Sopro emanado de Deus".
                "Cada coisa, dizia ele ainda, é uma Trindade de Fogo, Luz e Ar. Em outras palavras: o Espírito - o Pai - é um Fogo Divino, superessencial; o Filho, a Luz manifestada; e o Espírito Santo, o Ar ou movimento superessencial".
                "O Fogo reside no coração e distribui seus raios por todo o corpo, dando-lhe a vida; porém nenhuma luz nasce desse Fogo sem o espírito de santidade".          A filosofia esotérica assegura que reside no homem uma espécie de FOGO, chamado KUNDALINI. É o Fogo Serpentino latente no centro básico de vitalidade (o cóccix), como serpente enroscada em seu letargo, até que desperte e continue ativa, mediante a purificação do corpo, das emoções e da mente, como o completo domínio dos três mundos: físico, emocional e mental. Isso não se pode alcançar facilmente, sem o que, todos os homens já teriam  obtido a Suprema Perfeição.
                Tão logo o discípulo se encontre em condições, tal Fogo sobe por Sushumna, que é o "nadi", ou conduto medular da coluna vertebral, à cuja direita se acha o nervo "Ida" e à esquerda, "Píngala", termos técnicos esses, que empregamos  segundo o Orientalismo, por não conhecer, até hoje, a Ciência oficial o referido fenômeno, mas que o nosso Colégio     Iniciático se encarregará de modificá-los, futuramente, para o nosso idioma.          Assim, possuindo o discípulo os condutos medulares em perfeitas condições, Kundalini por eles se eleva, abrindo as Portas dos mundos invisíveis, mesmo porque o humano fogo, pondo-se em contato com o Divino (qual o fenômeno de dois carvões numa lâmpada elétrica) a Energia Cósmica se estabelece. É o que se pode chamar de "Fiat Lux", pois de fato, a "Luz espiritual" se faz para o discípulo.
                É o mesmo fenômeno da cana onde Prometeu encerrou o Fogo roubado aos deuses. Do mesmo modo que o Tirso dos iniciados, e o Caduceu de Mercúrio, cujas duas serpentes enroscadas nos dão a nítida e perfeita compreensão dos referidos "nadis" ou condutos medulares da coluna vertebral. Quanto ao capacete alado de Mercúrio, simboliza a     Inteligência Suprema, a Mente Universal.          Nas escrituras sagradas vemos "Elias arrebatado num carro de Fogo". O próprio nome "Elias" provém de Hélios do Sol.          Em tudo pulsa esse misterioso Fogo. Tudo nasce e vive por Ele. E, se bem observarmos a Natureza, de tal nos  convenceremos:          "Entre as plantas aquáticas, diz Maeterlinck, figura como a mais romântica, a Valisnéria, essa "hidrocarídea", cujos desposórios formam o episódio mais trágico da história amorosa das flores. A Valisnéria, entretanto, é uma insignificante planta, desprovida da graça encantadora do nenúfar, espécie de loto europeu, ou de outras flores subaquáticas, de airosas cabeleiras. A Natureza, porém, esmerou-se em lhe dar uma formosa história. Toda a     existência dessa planta se desenvolve no fundo das águas, em uma espécie de sonolência, até o momento nupcial, em que vive uma nova vida. Então, a feminina flor vai lentamente desenrolando a longa espiral de seu pedúnculo, emerge das águas e se abre, estendendo-se garbosamente na superfície do lago. Eis que, de lugar vizinho, a vê-la, apenas através da sombria água que a cobre, a flor masculina sente-se bruscamente retida, porque o talo que a sustém e lhe dá vida é demasiadamente curto, não lhe permitindo chegar até à superfície das águas, e aí consumar a união nupcial entre estames e pistilos. Trata-se de um defeito, ou da mais cruel das provas da Natureza?
                Imagine-se, com efeito, a horrível tragédia desse desejo, dessa transparente fatalidade, desse suplício de Tântalo de estar vendo e tocando o que é inatingível. Semelhante drama seria tão insolúvel, como o nosso próprio drama na Terra.
                Mas, eis que surge, de repente, um novo e inesperado elemento.
                Terá a flor masculina o pressentimento de tamanha decepção? Não o sabemos. O certo, porém, é que ela soube guardar em seu coração uma bolha de ar, como guardamos, em nossa alma um doce pensamento de inesperada salvação... Dir-se-ia que vacila um instante, para logo, em esforço supremo, o mais assombroso de quanto se conhece na vida das flores e dos insetos, romper, heroicamente, o laço que a liga à existência, para voar à altura de seu amoroso ideal. Corta, por si mesma, seu pedúnculo e, em incomparável impulso, entre pérolas de alegria, suas pétalas  se desfolham pela superfície das águas... Ferida de morte, porém livre e rutilante, flutua um instante ao lado de sua amorosa consorte. A união dos dois seres se realiza, depois da qual a flor masculina, sacrificada em aras de seus desejos, é joguete das águas, que levam seu cadáver para a margem vizinha, enquanto a esposa - já mãe - cerra sua  corola onde palpitam, ainda, os amantes eflúvios; enrola seu pistilo e desce novamente às profundezas aquáticas, afim de amadurecer o fruto de um amor heróico e sem limites".
                Essa formosa passagem da vida das flores aquáticas, dá-nos a idéia do FOGO amoroso, que pulsa no seio da Natureza. Se disséssemos que o Universo é FOGO, não mentiríamos. Tudo quanto percebem os nossos sentidos não é mais do que sombras e fumo desse Fogo.

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