segunda-feira, 7 de outubro de 2013

QUE É INTUIÇÃO




QUE É INTUIÇÃO
                                            PROFESSOR HENRIQUE JOSÉ DE SOUZA - 1936

                Na minha eterna rebeldia – já que “as almas rebeldes são as que se salvam”, como diz o oráculo, pois, rebeldes devem ser todos aqueles que não estão de acordo com as injustiças e erros do mundo – o Gênio não é o escravo do intelecto, mas sim o seu senhor. Como as águias, não possui outras cadeias, senão, suas próprias asas. Eleva-se para os céus desconhecidos, à fim de roubar aos deuses seu cetro. Ama quanto deve amar e odeia tudo quanto deve ser odiado. É o misterioso peregrino, que em noites estreladas, para interrogar o mistério, dirige sua rota para as constelações sublimes do Espírito. Sua vida é sacrifício, porque, entre os de baixo – tal como o é o mundo inteiro – será sempre o incompreendido, por levar em sua alma todas as luminosidades do Divino.
                 Os gregos, discípulos de hindus, parsis e egípcios, colocavam acima da humanidade vulgar, a esta outra Humanidade dos Heróis, dos semi-deuses e dos deuses invisíveis...
                Acontece, porém, que o homem mais vulgar traz consigo o germe de um Herói, porquanto, sabedor de que tendo vindo ao mundo, há de fatalmente morrer... no entanto, passa a rir a vida inteira... (melhor dito, o “Rei do Mundo”, em seu poderoso Reino na cidade de Agardi, Agartha, Erdemi, etc., dizemos nós). Seu reino terrestre se acha oculto (???) e nós, os filhos do “País das Neves”, somos apenas Seu Povo... na face da Terra. Seu reino é para nós a terra prometida: Napamaku, e levamos em nosso coração, a nostalgia dessa região de Paz e de Luz. Será ali onde todos nós acabaremos um dia, quando em tempos próximos, nossas terras forem invadidas pelos bárbaros (eis aí mais uma profecia realizada, a respeito de que “O Oriente fundiu-se no Ocidente”, porquanto, Mongólia e o próprio Tibete... já foram invadidos por aqueles a quem o sábio Lama chamou de “bárbaros”, etc.). Nossos Oráculos são formais... nesse sentido. Os mais Santos entre nós, já partiram para Napamaku (isto é, dizemos nós, os reinos subterrâneos da Agartha), para os Mosteiros (Templos de 13 torreões, dizemos nós ainda...) de Sabedoria do Senhor dos Três Mundos. Um dia, porém, termos que fugir, para salvar a Tradição eterna, da possível profanação dos invasores de Norte e Sul, à fim de ocultarmos de novo... nossos escritos e Doutrina”.
                “Que importa tudo isso ao Venerável, à ‘Poderosa Jóia do Céu’! Para Ele um dia é como um ciclo para nós. Imutável, Ele reina no coração e na alma de todos os homens. Ele conhece seus mais secretos pensamentos e auxilia os defensores da Paz e da Justiça”.
                “Ele não viveu sempre em Napamaku. A Tradição nos diz que antes da gloriosa dinastia de Lhassa, antes do sábio Passepa, antes de Tsongkhapa, o Mestre Onipotente já reinava no Ocidente, sobre uma Montanha sagrada, cercada de florestas (???) no País onde hoje habitam os Pilineu-glien (estrangeiros, isto é, ocidentais. Ademais, o próprio termo Shamballah, se harmoniza com o de “País do Ocidente”, Ilha imperecível, etc, dizemos nós...) Por seus filhos espirituais, Ele reinava sobre as Quatro direções do mundo (segundo o mistério dos “4 Maharajas”, dizemos nós, ou Pontos Cadeais). Nesse tempo existia a Flor sobre a Svastica... Porém, os ciclos negros fizeram-no sair do Oeste para voltar ao Oriente, entre nossa gente. Foi, então, destruída a Flor (do mistério do LPD de Cagliostro, isto é, do “Lilium Pedibus Destruens”, ou a destruição da Flor de Lis, com a “Queda da Bastilha”. Cujo LPD é hoje o próprio nome daquela Montanha, onde nossa Obra fez a sua espiritual eclosão... e que o mesmo sábio Lama apontou como o Lugar, onde o Rei ou Senhor dos Três Mundos, já havia reinado muito antes... dizemos nós). E agora, continuou ele, só perdura a Svastica, como símbolo do poder central da “Jóia do Céu” (símbolo por nós adotado, inclusive, em nossa bandeira, inúmeras vezes hasteada em São Lourenço, em nosso Governo Supremo, cuja bandeira foi, por sua vez, a de todos os Budas-Vivos da Mongólia, por ser a do ‘Senhor dos Três Mundos’)...” E paremos aqui... para ultrapassarmos o permitido.
                “O conferencista começa dizendo: “Esta é a terceira e última da minha série de palestras, que embora possuindo cada uma um título adequado com o assunto que lhe servia de tema, simbolizam as três: CIÊNCIA, RELIGIÃO e ARTE, formando um acorde musical perfeito.” A sessão será, entretanto, iniciada com o “Hino Dhâranâ”, que era o nome que possuía a nossa Sociedade no começo de sua vida, pois, como sabeis, foi uma época “mística”, tal como a sua origem, isto é, as Fraternidades lamaístas (budistas) transhimalaias, que a criaram.     Nesse caso, quem o vai acompanhar possui algo de místico em nossa Obra, tal como outrora nos Templos sagrados do Oriente, a Sacerdotisa guardiã do Fogo Sagrado. Ademais, seu próprio nome – HELENA – proveniente de “Helios”, o Sol (que por sinal é, também, seu planeta de nascimento, como o era o de HELENA Blavatsky), harmoniza-se perfeitamente com tudo quanto acabamos de dizer. Nesse caso, serei eu quem a finalizará (a sessão), acompanhando o HINO atual, “O Alvorecer de um Novo Ciclo”, como a parte intelectual ou dirigente da mesma Obra, não pelo meu Saber insignificante, mas por motivos que somente a Lei os poderá explicar.
                E logo cita a famosa frase da sibila de Cumes (Eneida-Virgílio) a Enéas, explicando a dificuldade que há em se sair dos “infernos”: HOC OPUS, HIC LABOR EST (Aí é que está a dificuldade). Mas cujos “infernos” se referem a este baixo ou inferior mundo em que vivemos, mesmo porque tal termo procede de “in-fera”, que quer dizer: lugares inferiores. E quanto à “dificuldade”, poderia ser empregada em todos os casos da vida, a começar pela (dificuldade) de se reconhecer entre os demais homens, os portadores de missão especial para o mundo.
                Que ele (conferencista) já o havia afirmado algures: “Eleva-se o homem na vida e se choca com a família; se se eleva ainda mais, se choca com o povo; se mais ainda, com a nação e, finalmente, com o mundo inteiro”.      É, ainda, o caso – segundo ensina Darwin – que a lei integral do Cosmos, está na seleção pela luta... Razão porque possui algo de homérica – em grau maior ou menor – a luta do carbono para se transformar em diamante; a do germe até se desenvolver em uma árvore, tal como o da “rocha da gruta de Posílipo” (Zanoni, Cap. V); a do animal e o homem contra o meio ambiente ou “luz astral” dos teósofos, desde quando nasce até a sua morte; em suma, a de tudo quanto vive na natureza.
                Até mesmo nos céus – segundo o mito universal – rege a seleção após a luta.  As “Valquírias dos cantos nibelungos”, do mesmo modo que as huris corânicas (sua cópia fiel através dos séculos), acolhem solícitas o duplo astral dos guerreiros mortos em defesa de um ideal heróico. E a última e maior de todas, a Brunhilda do poema musical vagneriano, leva aos céus – desafiando as fúrias de Jeová-Wootan – a maior das heroínas humanas – a heróica Mãe de heróis como Sigfredo!
                “Grande é a ação, porém, muito maior a resistência”, é cantado no final de “Tristão e Isolda”, aludindo-se à luta íntima do místico-prático com esse inimigo interno ou Besta rugidora e apocalíptica, que todos nós trazemos internamente e à qual matamos com a morte, que é, por assim dizer, o nosso maior triunfo: “O Triunfo da Morte” de d’Annunzio. Ou então, nessa incomparável jóia do Mahabaratha, com o nome de Bhagavad- Gîta, quando Krishna incita a Arjuna – o protótipo da Humanidade vulgar ou de “heróis embrionários”, a que se faça herói...!
                Manifesta-se no homem, a lei ou força vital, tal como nos demais seres organizados, principalmente o Instinto, desde seu nascimento. À medida, porém, que vai crescendo, começa a perceber que em si existem duas personalidades distintas: uma como voz do Instinto, e outra, como Voz da Intuição, ou antes, da Consciência, que é, de fato, o verdadeiro Juiz que nos impele a fazer o Bem e nos condena – através do Remorso – quando praticamos o Mal. Desde então, desenvolve-se em nós um fator a mais, que virá despertar os nossos sentimentos ou paixões anímicas. Esse fator é a Inteligência, mediante a qual observamos, analisamos, discorremos, tiramos deduções, formando, portanto, cada vez mais, a sua Consciência, que é, finalmente, a conclusão de tudo isso.
                A maior ou menor escala, com mais ou menos perfeição, manifesta-se certa inteligência, desde o mais sábio até o mais ignorante dos homens, senão, no próprio selvagem, salvo aqueles que, por defeitos constitutivos físicos, se acham privados de elementos para receber sensações externas, ou para transmitir as internas, tal como aqueles a quem chamamos geralmente de “degenerados psíquicos e fisiológicos”. Existe, porém, outro fator no homem, que não obstante ser de caráter psíquico, não foi ainda detidamente estudado, como era dever: a Intuição.
                Que é a Intuição? Quem será capaz de a definir? Entretanto ela existe, é uma realidade. Não se assemelha à Inteligência, porque esta discorre, analisa e busca solução para todos os problemas; informa a consciência, abstrai, dispõe princípios gerais. A Inteligência chega a sintetizar; vai do conhecido e, por argumentos, tenta invadir o desconhecido. A Inteligência não se contenta em observar o puramente material; aventura-se ainda no terreno do imaterial: o Espiritual. Vai até esquadrinhar o infinito, onde, como é natural, acontece perder-se em conjecturas. Nada disso é próprio da Intuição. A Intuição, tal como a compreendemos, tem algo do instinto, porém, muito mais elevado; é uma percepção espiritual que nos prepara e, instintivamente, sem percebermos a razão, faz-nos agir “com conhecimento exato”. Inspirado precisamente na “Inspiração”, carece-se de tal conhecimento. É uma simples inspiração que se assemelha exteriormente ao “instinto sublimado”; ambos têm de comum o não serem a resultante da reflexão! A intuição não se limita apenas ao material, estende-se ao espiritual.
                Que é a Fé, senão uma verdadeira Intuição? Claro é que nem sempre com a Fé estejamos certos. Por isso mesmo, tão pouco assegurarei que a Intuição possa proporcionar Idéia exata. Nem sempre o homem se acha em condições de poder interpretá-la devidamente. Do mesmo modo que, nem sempre uma máquina obedece à intenção do maquinista. Não devemos esquecer que o homem é um ser material, embora que em si habite uma alma que o anima, e um Espírito que o guia para a sua verdadeira morada, que é o Divino.
                A Fé é uma Intuição; certo que para desenvolvê-la contribui a força persuasiva do pregador. Não criaria, porém, raízes, se não estivesse auxiliada pela Intuição do ouvinte... tal como acontece agora com todos aqui presentes. Essa Intuição não se concretiza precisamente nesta ou naquela crença, porém, obriga a pessoa a fazer idéia de Algo Superior, de uma futura existência ultraterrena. E essa idéia vaga relaciona tudo mais com o que disse o orador, que deseja incutir determinada crença ou coisa. A Intuição é mais atrevida do que a própria Inteligência. Ela é algo assim como um Farol que orienta o rumo da Inteligência e, por isso mesmo, foi a voz interna que guiou a todos os descobridores, como: Galileu, Newton, Colombo, e outros mais. Infelizmente, seu estudo é desprezado...
                À medida que a Inteligência humana se foi desenvolvendo, a Intuição passou por diversas modificações, isto é, atrofiou-se o elemento pelo qual a mesma se manifestava: o chamado “3º Olho” existente na fronte, ou o “olho pineal” (“olho de Shiva”, “Ureus mágico” dos egípcios, etc., em sentido evolucional, por isso mesmo, iniciático). No começo, a Humanidade encontrava-se em um nível pouco acima do animal.
                Por sua debilidade física, era caça dos grandes animais, do mesmo modo que dos menores, quando venenosos. O próprio reino vegetal oferecia-lhe frutos daninhos. Todas as coisas eram perigosas para o homem daquela época. Como poderia ele, portanto, sobreviver a tantos inimigos? Só se explica tal fato mediante sua salvadora Intuição. A própria Lei não podia deixar indefeso o ser mais espiritualizado do planeta...!
                A Inteligência de nossos primitivos antepassados, era muito limitada, porém, possuíam eles faculdades complementares que, com o tempo, desapareceram. Ou melhor, à medida que a Inteligência se foi fazendo mais lúcida, tais faculdades se tornavam desnecessárias. Entre essas, como já foi dito, possuía prodigiosa Intuição, que lhe fazia pressentir os contínuos perigos; por isso mesmo, deles se afastando...
                A vida do homem em sociedade, embora rudimentar, tornava-o mais forte, correndo menos perigo sua existência. Juntando-se os efeitos da experiência de sucessivas gerações, tudo isso contribuiu para que algumas de suas faculdades inatas se debilitassem. Tal ocorreu ao Instinto e à Intuição. A Inteligência, como se disse, progrediu cada vez mais, tornando-se desnecessárias as impressões internas. Pode-se mesmo dizer que, em certo grau de Inteligência, muitos preferem hoje a argumentação em vez da Inspiração, da qual desconfiam, justamente por ela não explicar, mas limitar-se apenas a aconselhar. Esse costume de argumentar, torna-se menos apto para interpretar a palavra Intuição. E isso, provavelmente, devido a não compreendermos, porquanto, para a maioria, a Intuição converteu-se em ridícula superstição e absurdos prejuízos. As faculdades anímicas, para se manifestarem devidamente, requerem condições especiais no indivíduo. O mesmo sucede com as faculdades corpóreas: nem todos possuem as mesmas aptidões, nem tampouco, todas as almas as possuirão.
                Pena é que a vida social, tal como se a pratica, continue retardando as principais de nossas faculdades, especialmente, a verdadeira INTUIÇÃO, porquanto, as aptidões, propriamente ditas (que não devem ser chamadas de “psíquicas”, como a maioria o faz), não são senão “tendências” ou “Skhandas”, como as chamamos teosoficamente, por serem o fruto de experiências passadas, através das várias encarnações do Ego.
                Por isso mesmo, a Intuição é um estado permanente nos Homens Perfeitos ou Adeptos; enquanto esse mesmo estado naqueles a quem chamamos de “sábios”, gênios, etc., por suas obras de valor para o mundo, só se manifeste em determinados momentos.
                 Daí o dizer-se, por exemplo: F. estava inspirado (ou INTUÍDO) quando escreveu tal coisa, etc. O que importa dizer que, a Intuição em tais indivíduos só tem razão de ser quando seu mental, além de bastante desenvolvido, deseja realizar esta ou aquela coisa (por isso mesmo, precedida de “meditação”, que é o único meio do Eu-Inferior ou “Alma” se unir ao Eu-Superior ou Espírito). Em resumo, o que se pode chamar a tais momentos (não permanentes), de “adaptabilidade mental” para receber de um estado de consciência imediatamente superior ao que ora desenvolve a Humanidade, aquilo que ele, só, não pode resolver. Foi, pois, o que aconteceu com Newton, Franklin, Galileu, Pasteur, Colombo, e quantos outros são tidos como verdadeiros sábios, gênios, etc., etc., para os homens vulgares.
                E, justamente, por nem todos possuírem a INTUIÇÃO desenvolvida, que nos achamos – quer do ponto de vista científico, quer do moral – mui distantes ainda de podermos interpretar as verdades superiores, segundo sua original pureza. No primeiro, pelas idéias preconcebidas, que entorpecem a compreensão de outras, pois nem tudo quanto temos como princípios fundamentais da ciência é exato. E no segundo, por nem todos compreenderem até hoje, quem são, donde vêm e para onde vão... Por isso mesmo, afastando-se cada vez mais da Lei, para não dizer da Razão, mas também, envolvendo-se dia a dia nas bem tecidas redes de “Maia”, a ilusão dos sentidos, que têm por causa AVIDYA, isto é, “a ignorância ou falta dos conhecimentos necessários a descobrir tais coisas”, para não dizer, a sua própria evolução.
                Não precisamos ir muito longe para provar o acerto dessas nossas palavras, principalmente do ponto de vista científico, porquanto, homens de cultura excepcional, como por exemplo, o Prof. Enriques da Universidade de Boulogne, na sua valiosíssima obra “Les Principes fondamentales de la Science”; do mesmo modo que, o grande sábio francês Henri Poicarré, considerado como o antecessor de Einstein, nas teorias da Relatividade, em uma de suas incomparáveis obras com o título de “La Science ET l’Hypothese”, chegam a afirmar que ninguém pode provar se de fato é a Terra que gira em torno do Sol, ou se este em torno daquela. Nesse caso, deixando em dúvida a de Galileu, até hoje adotada como certa...
                Na Medicina, a mesma coisa: uma teoria sobre esta ou aquela moléstia, este ou aquele medicamento, de repente é posta de parte como errônea, etc., e, portanto, capaz de acarretar graves prejuízos ao mundo. Daí o dito do grande Paracelso: “O que uma humanidade considera como o cume do saber, pode ser considerado pela vindoira como inútil e até prejudicial”...
                Mui longe está de ser verdade, aquilo que julgamos como tal, para não dizer, todo esse nosso saber insignificante, de que nos orgulhamos a cada momento, ou nos revoltamos, vaidosos, e até coléricos, quando alguém ousa retrucar-nos!...
                A Intuição, se fosse possível interpretá-la como de fato ela o exige, abrir-nos-ia o caminho para novas e rápidas descobertas. Creio, entretanto, que mui longe se acha ainda o dia do homem estudar detidamente o que venha a ser a Intuição. E isso, devido ao desconsolador materialismo que, por desgraça, predomina ainda na Terra... E agora, talvez, mais do que nunca!...
                Em resumo: no homem agem forças físico-naturais, a lei biológica, epílogo da anterior; as forças de caráter psicológico: a Intuição e a Inteligência. Cabe investigar se as últimas atuam apenas no homem, ou se, ao contrário, se manifestam, em maior ou menor escala, nos animais... Não pretendo resolver tal questão... Entretanto, em alguns animais, como sabemos, observam-se fatos que saem por completo, do que chamamos de “instinto”, principalmente, em certos vertebrados. Claro é que, do ponto de vista espiritual, existem enormes diferenças entre o mais inteligente dos animais e o mais ignorante dos homens...
                A evolução não é mais do que uma cadeia infinita, cujos elos se estendem do mineral ao vegetal, deste ao animal e daí ao Homem vulgar, até chegar a outros Seres que Humanidade está mui longe de conhecer, pese a opinião dos que negam o que jamais procuraram investigar. Ou se o fizeram, lançaram mão dos processos grosseiros de que dispõe ainda o homem, processos esses impossíveis, portanto, de divulgar Seres cuja sutileza escapa por completo à percepção de nossos sentidos... Será que pretendemos conhecer tudo quanto existe no Universo? Tal pretensão seria ridícula. Na criação existem Seres mais perfeitos do que o Homem!...
                Essas forças físico-naturais e as que chamamos psíquicas, não terão por acaso uma só e mesma origem? Não serão, talvez, a manifestação da Suprema Inteligência, dado o fato de que tudo é Mente? Tal Inteligência não deve, sim, é descer às especulações que as religiões lhes atribuem. Sua sabedoria estabeleceria leis gerais, que regeriam tudo no Universo, desde a Matéria até o mais espiritual. Assim se concebe a precisão, tanto das primeiras como das segundas, sem deixar o “livre-arbítrio” aos seres mais inteligentes.
                “Alimento, sono, temor e sexual desejo, tem o homem de comum com os brutos. A faculdade de discernir, residente em Budhi (plano da Intuição ou da “certeza”), é a única que lhe faz homem. Se se despoja, portanto, dessa faculdade, será igual aos brutos”. – Uttara-Gîta – Estância 2ª , vers. 41.
                Mas, que vem a ser Budhi? O estado de Consciência em que se sente a Unidade com o Universo, sem indício de sentimento de separação.
                Sabe todo verdadeiro Teósofo, que a raça atual (a 5ª sub-raça da 5ª raça-Mãe: a Ária) desenvolve o Intelecto, ou Manas “o mental, o pensamento”, etc., donde provém o termo sânscrito “Manu”, o homem, e até, o “man” inglês, com o mesmo significado. Do mesmo modo que é dirigida, cosmicamente falando, por Buda-Mercúrio. Ora, se ela desenvolve, como já foi dito, o Mental, logo, o estado de consciência imediatamente superior é BUDI. Nesse caso, é este que dá a Intuição ao homem. Daí, aquele outro termo sânscrito – adotado na nomenclatura teosófica como Budhi-Taijasa, que quer dizer: “a Iluminação da alma humana pela Alma Divina”. Ademais, Budhi implica no estado de consciência em que se sente a Unidade com o Universo, sem idéia de sentimento de separação. Existem outras palavras que exprimem o mesmo sentido, a começar pela neoplatônica “Teofania”, que quer dizer “a iluminação do homem pela divindade”. Do mesmo modo, quando se diz que “o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos, em línguas de fogo” (dia de Pentecostes). No próprio fenômeno do “despertar de Kundalini”, entre os Yogis. Senão, no próprio termo “Teosofia”, já que seu verdadeiro significado não é “Sabedoria Divina”, como pensa a maioria, mas, “Ciência dos deuses, super-homens, mahatmas, gênios ou Jinas, que constituem essa Humanidade superior, que serve de Guia à humanidade vulgar. E isso, por possuir justamente a Consciência mais elevada, que é Atmã, o Sétimo Princípio (Princípio Crístico, etc.), unida a Budhi, como 6º princípio.
                Razão de vos ter explicado, na minha palestra anterior, que tanto o termo Buda como Cristo possuem o mesmo sentido: Ungido, Iluminado, Sábio, etc.
                Um dos Mahatmas da Linha dos Kut-Humpas, que preferiu dar seu nome hipotético, aos teosofistas da primeira hora, de Kut-Humi, já afirmava: “O melhor e mais importante Professor é o Sétimo Princípio de cada homem, encontrado no Sexto. Quão mais altruisticamente trabalhe alguém por seus semelhantes e se despoje do sentido ilusório do isolamento pessoal (Ego-ismo, dizemos nós), tanto mais estará livre de Maia (‘a ilusão dos sentidos’) e mais próximo se encontrará da Divindade”.
                Ora, o Sexto sentido a que se refere aquele Mahatma trans-himalaio não é outro, como já se disse, senão, Budhi, como plano da INTUIÇÃO ou do Espírito.    O grande Ser denomina de “melhor e mais importante Professor”, temos que o fazer através do Sexto. É mais do que lógico!
                Em resumo, o que já explicamos ser um estado permanente nos Seres Superiores, e momentâneo ou parcial, nos chamados “sábios”, “gênios”, etc., pela humanidade vulgar, acabará, um dia, sendo estado permanente em todos os homens, sem distinção alguma. E não é para outro fim que existe a Grande Fraternidade Branca do Himalaia (à qual pertencem os referidos Mahatmas, etc.), também conhecida com os nomes de: Sudha-Dharma-Mandalam, Confraria Branca dos Bhante-Jaul, Hierarquia Oculta, etc., etc.
                Tudo isso já o havia afirmado o grande Iluminado, que foi São Paulo: “Todo ser bom pode falar ao Cristo em seu Homem Interno”; ao que nós acrescentamos: seja cristão, budista, maometano, espírita, teosofista, ou o que for, porquanto, não é a religião que faz o Homem... mas, o caráter. Ou antes: uma sã moral e elevada Sabedoria, segundo as duas sábias doutrinas orientais: do “Olho” (ou da Mente) e do “Coração”. Mui bem expressas, ainda, nos Dois Caminhos: Jnana, o conhecimento, e Bhakti (Devoção, Amor, etc.), laterais ao terceiro, que é Karma (lei de causa e efeito, etc.), por onde trilha a Humanidade inteira, até a sua completa Redenção.
                Diante do exposto, logo se compreenderá a razão de ser do maior de todos os Ideais, que é o da FRATERNIDADE HUMANA, sem distinção de nenhuma espécie. E não esses pseudo-ideais redentores, que por aí campeiam desordenadamente, aliás, como fruto de um fim de Ciclo apodrecido e gasto, para um outro portador de melhores dias para o mundo.
                Motivo, ainda, de já termos afirmado, que a “Teosofia é a Arca de Salvação”, em cujo bordo deverão, desde já, navegar – sobre o mar tempestuoso da vida – todos os homens de boa vontade, isto é, livres de preconceitos, isentos de ódios e de idéias separatistas, mas, em ânsias de um Ideal puro e verdadeiro, onde possam abastecer a sua mente e o seu coração, com a Sabedoria e o Amor, que são dons naturais de todos os homens evoluídos”.
                 Voltando ao termo Cristo, vemos por exemplo, o imortal Teósofo Roso de Luna dar esse título a Beethoven, por exemplo, pelo fato de ter sido um verdadeiro Iluminado, quer como “gênio inspirador da Humanidade, quer por seus altos dotes morais e os grandes sofrimentos de sua vida nobre e elevada”.
                A inspiração criadora é a que sente em seu interior todo artista, por ser ele um ativo colaborador da Divindade manifestada na Terra. Seu trabalho tem que produzir efeito; seus sonhos, de arrastar após seus passos, a Humanidade inteira, dirigindo-a pelo caminho da Perfeição. Não se trata apenas de carícias ilusórias dos sentidos, nem do recreio da mente, mas, da completa transformação da alma.
                A ruína do mundo, já dissemos algures, é uma resultante da maldade, da falsidade e da fealdade, como densas nuvens que procuram eclipsar a brilhante Luz do Sol, cujos raios são: Verdade, Bondade e Beleza. O primeiro Raio pertence à Ciência, cujos trabalhos analíticos hão de forçosamente culminar na Suprema Síntese. A Religião, no seu verdadeiro sentido de “religar ou tornar a unir” todos os homens entre si – para que um dia voltem à Unidade Síntese, donde emanaram – procura despertar a Bondade latente em cada homem, por mais involuído que pareça, pois não existe um só que não seja o reflexo divino, para não dizer, a própria Divindade manifestada na Terra.
                Se, como disse entretanto Bunyan, “a religião é a melhor armadura do homem”, ela é também a que maiores embaraços traz aos seus livres movimentos, e contra sua capa de hipocrisia, lutam ocultistas e Teósofos, como os representantes da verdadeira Religião-Sabedoria, por não proceder de um “deus antropomorfo”, mas, como disse H. P. B. de uma linguagem e sistema de Ciência, comunicados à Humanidade primitiva, por outra Humanidade tão avançada, que parecia divina aos olhos da humanidade imatura”.
                E logo acrescentava: “Se afastarmos essa capa tecida pela fantasia humana e arrojada sobre a Divindade, pela mão astuciosa de sacerdotes ávidos de domínio e poderio (como se constata em nosso próprio País atualmente, eles interferindo na sua vida política, etc.), não bastará ao homem o verdadeiro Ideal da Divindade, o único Deus vivo da Natureza. Os primeiros albores do século XX anunciam o destronamento do Deus de cada País e a proclamação da Única e Universal Divindade; não o Deus da mísera piedade, mas a Imutável Lei, o Deus da Justiça retribuidora. Não o da misericórdia, que é um simples incentivo para se cometer o mal e reincidir nele. Quando o primeiro sacerdote inventou a primeira prece egoísta, perpetrou o mais nefando crime de lesa-humanidade!”
                Falta-nos, porém, a ARTE para formar a Trilogia redentora da Humanidade.
                Nesse caso, ela é a sublime manifestação da Beleza, em todos os seus aspectos, até mesmo, no que se torna, ainda, desconhecido para os homens mais evoluídos. E como tal, um dos grandes Caminhos que nos conduzem aos céus donde provimos. Teósofos ou Ocultistas, foram todos os artistas, pouco importa se, por parte de alguns, inconscientemente. Do mesmo modo que o foram e são, os que sabem harmonizar Ciência e Amor para os distribuir equitativamente entre todos os seres da Terra.
                Disse Giordano Bruno na “Ceia das Cinzas”, que somos mais velhos do que os nossos predecessores e, portanto, nosso juízo se acha mais amadurecido; maior o grau de nossos conhecimentos”. Com tais palavras, confirma ele a Lei de evolução, e acrescenta: “Temos a Divindade em nosso interior”. Nesse caso, contínuo, deve ser o progresso da Ciência, da Religião e da Arte. Para que tal progresso se torne efetivo diante da imensa responsabilidade que temos para com a Humanidade, devemos despertar tudo quanto de bom e belo dorme em nosso seio, tratando de nos dominarmos a cada momento. Devemos fazer presentes aquelas memoráveis palavras de Epicteto:
“Tu queres ser igual aos homens vulgares, como fio de túnica, que se pode confundir com os demais fios; eu desejo, porém, me parecer à purpúrea sanefa que, não brilha apenas, mas embeleza todo lugar onde é aplicada”. Nesse caso, não queiramos ser fios de túnica, para não nos confundirmos com os homens vulgares, para os quais teve Emerson estas palavras: “São viventes desculpas de não ser homens; humilham-se, desculpam-se com prolixos raciocínios e acumulam aparências, porque lhes falta a substância”.
                A falsidade é a face contrária da beleza da alma humana. Hoje em dia tudo é falso. Essa pestilenta onda de falsidade e fealdade quebra o ritmo da vida, que assim se torna repugnante paródia, em vez de sublime canto de amor.
                Volvamos ao Ritmo. Passemos, por exemplo, às harmoniosas danças dos astros, que em suas órbitas nos conduzem para o Infinito. Pensemos no baile cósmico; nessa vida tão superior à que vivemos, como o Universo é superior à lagarta que se arrasta molemente na folha de uma roseira.
                Nossa vida é partícula infinitesimal da Vida Cósmica. É como se disséssemos, o átomo da vesícula de um pulmão. Somos partes integrantes do pulmão infinito donde recebemos o Sopro Divino.
                Buscamos no mundo a parte estática, externa e ilusória; enquanto que, a Realidade é dinâmica e nos dá o conhecimento de uma potestade criadora, sustentáculo da vida, que anseia sempre pela mais completa liberdade. E assim, compreenderemos que na Divindade vivemos, nos movemos e temos nosso ser.
                Ciência, Religião e Arte, não podem, portanto, cristalizar-se em uma ficção estática; elas devem seguir o dinamismo do Ritmo cósmico, do contrário se asfixiarão como um pulmão onde falte o ar. Transformar-se ou morrer, é dilema iniludível!...
                A arte, que até hoje reproduziu a parte externa da Natureza, deve ceder lugar a uma outra arte mais espiritualizada, que nos conduza à contemplação da alma, penetrando no templo de seu coração divino. Portanto, formas, cores e sons, devem buscar um ritmo oculto. O grande progresso da música, em pouquíssimos séculos, nos dá um vislumbre da espiritualidade a que aludimos. A música é a arte que mais profundamente comove a alma, muito mais do que a poesia, por estar sujeita à mente, enquanto que a música lhe deixa o campo aberto completamente livre para sonhar à vontade.
                Se um pintor faz um retrato, não deve contentar-se com ser ele parecido com o original. Para isso bastaria apenas a fotografia... e o pintor não é fotógrafo. Com seus pincéis não deve reproduzir o rosto estático do retratado, mas a alma dinâmica que se transforma a cada instante. Assim o compreendia Leonardo da Vinci, o qual se aprofundou mais no coração da Arte, como prova o retrato da Gioconda.
                O impressionismo moderno não se cinge apenas ao debuxo exato de umas linhas rígidas; despreza a regularidade dos matizes e detesta o cromo. Lança, como aquele pintor grego, sobre a tela, a esponja das cores, para que da boca do cavalo se veja sair o hálito. Busca a vida, quer espiritualizar-se e seus esforços, embora que hoje não tenham dado fruto positivo, são precursores de um novo sistema mui diferente do antigo.
                Há de aparecer um dia o gênio que abrirá a porta de um caminho desconhecido, por onde entrarão novos e embriagantes matizes, que somente em sonhos nos é dado contemplar.
                Entrará, então, a Humanidade na Arte do futuro, a arte da nova civilização, que será o bálsamo consolador da aflição da alma. Hoje, por desgraça, buscam-se impressões acariciadoras por meio de narcóticos funestos e embrutecedores, dignos de bruxos e derviches; existe, porém, outro portal mais nobre e mais santo: o da ARTE.
                Todos nós sabemos que possuímos cinco sentidos; porém, ignora a maioria que cada um deles tem íntima relação com as mãos. Do mesmo modo que cada uma delas possui cinco dedos, dos quais, o polegar é o mais importante, porquanto, é o único que, por si só, pode fazer o papel dos demais; assim, o sentido da vista tem por polegar a visão; o ouvido, o tato, o gosto e o olfato fazem o papel dos outros dedos da mão.
                A relação matemática, segundo a teoria dos TATTWAS (“Forças sutis da Natureza”) da Índia, é a seguinte: quatro oitavas partes (ou seja, a metade) se relacionam com um dos sentidos, e as outras quatro oitavas, respectivamente, com cada um dos demais sentidos. Aclaremos mais a idéia: nossos olhos servem para ver quando recebem uma impressão luminosa, porque são formados por éter luminoso. A metade é de visão (os 4/8) e a outra metade vai aos demais sentidos, à razão de 1/8 cada um.
                Se eu ouço um som, posso ao mesmo tempo ver uma cor que está em correspondência com ele; assim como perceberei uma sensação táctil, outra de sabor e outra de olfato.
                Embora que a maioria dos homens não esteja hoje com os sentidos perfeitamente afinados, a educação os fará um dia mais responsivos. O certo é que existem pessoas que, ao ouvirem música, cerram os olhos e vêem simultaneamente a sucessão rítmica de delicadas cores. Em resumo, podemos declarar que não há uma partícula de nosso corpo que não possa responder às vibrações dos cinco sentidos. E embora estejam localizados em certos órgãos especiais, como os olhos e os ouvidos, virtualmente, todos os átomos do corpo podem ter as mesmas peculiaridades, como sucede no corpo astral, cujos átomos todos vêem, ouvem e gostam sem necessidade de órgãos especiais.
                Tudo é questão de associação de ritmos. Desgraçadamente, estamos hoje afundados na maior ignorância da magia do ritmo, que no futuro abrirá horizontes maravilhosos, como no presente acontece com a eletricidade.
                Wagner, com um ritmo insignificante de poucas notas, que insinuava e repetia muitas vezes, ampliando-o em certo momento, apresenta-nos uma comovente melopeia que eleva a lama a sublime altura. A sua música foi uma ampliação do ritmo a ponto de ser criticado pelos famosos músicos de sua época. E no entanto, é isso o que deve agora ensinar a Arte. É uma Alvorada que pressentimos e ansiamos, principalmente aqueles que vêem a Arte nos seus últimos estertores.
                Embora que os colossos da Arte continuem sempre como colossos, não quer dizer com isso que os mais valiosos artistas de hoje os imitando e ampliando, não concorram para a ressurreição de novos gênios em nosso século; mas, para isso, mister se faz romper os moldes antigos, vertendo-lhes novos ideais de maior espiritualidade, abrindo novos horizontes.
                O mesmo aconteceu em todos os tempos e com todas as coisas! Os chamados “fundadores de religiões” apresentavam-se, também, sob esse aspecto. No fundo, a idéia era a mesma – a Verdade na sua original pureza – porém, ampliada segundo a evolução da época em que vieram ao mundo. Seus discípulos popularizaram as santas doutrinas, e quando, com o tempo, elas se desnaturaram, apareceram novos Instrutores para as purificar, apresentando-as sob uma nova forma... que lhes devolvesse seu ritmo original.
                O tênue ritmo do canto do grilo que, monótono, se ergue para o céu nas noites de verão, amplia-se até chegar a ser o ritmo infinito do Universo.
                Quanto à Índia, cabe àquela famosa Árvore, cujos rebentos se conservam religiosamente e sob a qual ensinava o Buda a seus discípulos, expondo, sem igual, as cinco meditações da alma (segundo os 5 dedos e sentidos), com estas palavras: “Há cinco espécies de meditação:  A primeira, é a do AMOR, pela qual teu coração desejará a prosperidade a todos os seres, inclusive aos teus inimigos.
                A segunda, é a de COMPAIXÃO, que te moverá a pensar em todos os seres angustiados, representando vividamente em tua imaginação, suas penas e ansiedades, e sentindo para com eles profunda comiseração.
                 A terceira, é a da ALEGRIA, durante a qual pensarás no bem-estar e contentamento dos demais.
                 A quarta é a MEDITAÇÃO sobre a IMPUREZA, durante a qual considerarás sobre as funestas consequências da corrupção, dos efeitos da falta e da enfermidade, pensando quão frívola ela o é, mas, quão fatais são seus resultados.
                A quinta, é a MEDITAÇÃO sobre a SERENIDADE, durante a qual te sobreporás ao Amor e ao Ódio, à tirania e à sujeição, à riqueza e à pobreza, considerando tua sorte com perfeita tranquilidade”.
                Estas são as regras do Ritmo moral, que afinam a Alma para que tome parte na grandiosa Sinfonia do Ritmo Cósmico! Sim, porque, o Ritmo é ordem e somente pela Ordem tudo se pode alcançar.
                Comecemos pelas coisas triviais, pondo ordem em nossos propósitos, atos e pensamentos mais insignificantes. A alma acabará contraindo o hábito da ordem, e suas vibrações serão, cada vez mais, harmoniosas e responsivas a tudo quanto venha dos planos superiores.
                Nunca devemos esquecer que a sublime Tríade “Beleza, Bondade e Verdade” – harmoniza perfeitamente com as exigências musicais de “Harmonia, Melodia e Ritmo”, assim como se disséssemos que, afinados por um só e mesmo Diapasão de “Beleza, Bondade e Verdade”, fazemos vibrar as “3 Cordas de nossa Lira”, que tanto vale por “Corpo, Alma e Espírito”, “Pai, Filho e Espírito Santo”, ou segundo o orientalismo: Brahma, o Criador, Shiva, o destruidor ou transformador e Vishnú, o Conservador (ou Equilibrante), etc.
                “A Música”, já dizia o grande Beethoven, é uma Revelação muito mais sublime do que toda Sabedoria ou Filosofia. Ela é a única introdução incorpórea no mundo superior do Saber, esse mesmo mundo que rodeia o homem, cujo significado interior não se percebe por conceitos reais; a parte formal daquela é simplesmente o veículo necessário, que revela por meio de nossos sentidos a vida espiritual”.
                O que pode ser acrescido destas outras palavras de quem só conhece Música por INTUIÇÃO: A Música é o esquema filosófico intuitivo do Universo inteiro; o plano ou mapa da Metafísica universal. Toda música emana de um Foco e se estende em ondas, como os vitais eflúvios do Astro do dia: como o despregar do Cosmos no momento da Criação, se é que as deduções da Mente humana, em presença da imensidade, possuem algum valor. Essas ondas espalham-se no espaço por uma ordem harmônica em séries regulares: é a lei do Ritmo. E como esta Lei Universal, acham-se representadas na Música todas as essências, todas as categorias de filósofos; todas as substâncias universais, exceto a matéria, que na mesma não atua, senão como veículos de manifestação, ou antes, da perceptibilidade para outros. Porquanto, a música mental é também manifestada, enquanto se revela à Consciência com todos os seus elementos constitutivos, com toda a integridade de seu significado, com a sua plena coordenação.
                As idéias de tempo no Absoluto, e de duração no Relativo. De espaço, em razão da intensidade sonora, pois, segundo ela, as ondas são projetadas a maior ou menor distância, e não resta a menor dúvida que, no domínio dos impalpáveis fluídos, tal coisa ocorra com as vibrações mentais, que são a Alma e a Essência das Vibrações sonoras; as idéias de ser ou de Existência; o eterno contraste e a Harmonia por complemento, que é, no fundo, a mesma lei biológica da sexualidade: a raiz do Amor; base e peso na Arquitetura; motivo e fundo no claro-escuro; aparição do matiz complementar na sombra de cada cor, tanto nos cromatismos naturais, como nos reproduzidos pela arte pictórica; tudo, enfim, se encontra na Música, inclusive a afirmação da Existência e expressão da Atividade inerente ao Ser manifestado em seus poderes primordiais de: Vontade, Mente e        Emotividade; porém, expressão intuitiva à percepção das vibrações, mentais ou sonoras, posto que não necessitemos contá-las para apreciarmos a afinação ou sua falta. E todavia, há muito ainda na Música: a aspiração à Harmonia, o anelo para a Perfeição absoluta à fruição do deleite próprio; a mais pura, do deleite compartilhado entre muitos, e mais elevada ainda, do deleite altruísta: a satisfação de fazer gozar, porque o músico, ao criar uma beleza, sente antecipada a felicidade dos que a vão conhecer mais tarde; em uma palavra, todas as condições eubióticas! Tudo quanto é capaz de melhorar e fazer ditosa a vida humana, está encerrado na Música. E mais do que em outra qualquer, nas de Beethoven e Wagner.       A Música teve sempre domínio sobre as almas. Porém, Beethoven e Wagner chegaram a ser os maiores magos no manejo desse Poder Colossal, que extasia as almas e as conduz pelas regiões sublimes do Espaço, em busca de sua Origem!...
                O fenômeno, portanto, da Tríplice Manifestação Divina, quer na Música, quer nas Artes, quer nas Ciências, nos indivíduos, ou nas Nações, etc., merece ligeiro estudo à respeito das “3 Gunas” ou qualidades de matéria, como complemento à nossa palestra anterior.
                Nos indivíduos, já tivestes uma pálida ideia através daquela mesma palestra, cujo título foi: “As diversas categorias humanas”, sem falar no Diagrama com que foram iniciadas as projeções luminosas, e por fim interpretado segundo “7 Chaves cabalísticas”.
                Vejamos, agora, o que representam tais “qualidades de matéria” na vida das nações: Quando é a condição Tamásica (o Encarnado) que predomina em uma nação, isto é, por dois terços de seus habitantes encontrarem-se sob o influxo das paixões inferiores, tal povo se torna covarde e indiferente às coisas do Espírito; mas, ativo e corajoso (se o quiserem), para a defesa dos interesses pessoais e... tudo mais quando seja harmônico com as suas passionais ou inferiores ideias, segundo o termo sânscrito “KAMA” (desejo, paixão sexual, etc.). Daí... o aproveitamento dos mais espertos (entre eles) para se apoderarem das rédeas do governo de tais nações. E de cujo gesto ninguém tem que se queixar, segundo se acha expresso no sábio aforismo: “Cada povo tem o governo que merece”...
                Quando se trata da condição Rajasica (o Azul) predomina o espírito religioso, porém, sob a mais baixa manifestação, que é a do fanatismo e da superstição, porquanto, Rajas nunca se manifesta só, mas acompanhado de Tamas. Dessa mescla entre o azul e o encarnado (segundo a mistura das cores matizes) aparece o “Roxo”, lunático ou passional, tal como se deu na Raça lemuriana, dirigida pelos planetas: Vênus (Azul), e Marte (Encarnado), em cujo estado de consciência dominavam exclusivamente as coisas do Sexo. Daí, ter sido nela onde se deu a sua “Separação” (do Sexo), isto é, onde os seres começaram a nascer sob a dupla forma sexual. Nesse caso, quem domina tais Nações, é o espírito religioso no baixo sentido a que já nos referimos, isto é, manifestado como Fanatismo e Superstição. Ou melhor, o Poder Espiritual (o falso, porquanto, o verdadeiro sempre foi representado pelos Colégios Iniciáticos, como fiéis Guardiãs da Sabedoria Iniciática das Idades) querendo assenhorear-se do Poder Temporal, isto é, ficar senhor dos dois poderes, ou melhor, dominar o mundo, como tem sido até hoje o único desejo da Igreja Romana!...
                Infelizmente, “esse imperialismo psíquico papal” predomina ainda nas nações desprecavidas de seus altos destinos, a começar pelo nosso próprio País. Daí, poder-se dizer que, em todas as nações onde estiver predominando Rajas e Tamas ao mesmo tempo, se dará um retrocesso de vários séculos na sua evolução. E como ninguém tenha o direito de contrariar a Lei... o castigo não virá longe!
                 Predominam, ainda, em tais nações (Rajasicas e Tamasicas, ao mesmo tempo): os crimes passionais, os amores ilícitos, as revoluções repetidas e tudo mais quanto possa ser tido como “ATIVIDADE INFERIOR”...
                Quando é, finalmente, SATTVA (amarelo), que predomina (o qual atrai os dois primeiros para que se dê o Equilíbrio perfeito entre as 3 qualidades de Matéria) outorga aos povos a concórdia, o mútuo entendimento; a generosidade e acerto por parte dos governos, que se fazem eleitos e amigos do povo. Dirigentes e dirigidos formam uma Harmonia Perfeita, semelhante à vivida pelos antigos gregos da época anfitreônica e dos egípcios, nos seus belos tempos. É o que se pode chamar: consciência coletiva e concordância entre APTIDÃO, IDEALISMO e CARGO.
                Na Idade Média, a Era feudal por excelência, governava TAMAS. Agora domina Tamas e Rajas, ao mesmo tempo, o que representa um período de crises, uma era de transição, de dúvidas e incertezas... para quase todas as nações do mundo, segundo aquele velho adágio oriental: “Quanto mais pesado fizeres o mundo, mais o mundo pesará sobre ti!”
                E por isso mesmo... o acúmulo de Ideais redentores que se vêm por aí, todos eles simples “gritos de socorro”, lançados no árido Deserto davida atual da Humanidade, porquanto, o Único e verdadeiro Ideal é o da Espiritualidade, porém, do ponto de vista
                Equilibrante, entre a Ciência e a Filosofia (Sabedoria e Amor entre todos os seres da Terra), Ideal esse que só a TEOSOFIA pode dar ao mundo, justamente por ser a única que possui o direito do termo: Religião-Sabedoria. Religião, através do Ideal da Fraternidade Universal da Humanidade, sem distinção alguma. E Sabedoria, por ser a fiel conservadora da Ciência Eterna e Sagrada, pregada pelos verdadeiros Fundadores da Família Espiritual, que se chama: Humanidade.
                A Idade de Oiro ou Satya-Yuga, anunciada desde tempos imemoriais, já pela boca dos “rishis” indianos, das sibilas, dos profetas, e até, do próprio Virgílio, através da sua Eneida, etc. Era da Humana Redenção, e que tem ocasionado por parte de fanáticos, mui comuns nesse fim de Ciclo apodrecido e gasto, as idéias messiânicas, só terá lugar quando, por esforços próprios, no mínimo, quando dois terços da Humanidade, houverem tomado o Caminho verdadeiro que conduz a essa mesma Redenção. À tal época, já os Grandes Seres de Compaixão – pela boca de seus discípulos e ARAUTOS – cognominaram de “amanhã resplandecente” ou “Era da Felicidade!”. Por isso mesmo, que será, como já foi dito, a do Equilíbrio perfeito das coisas, dentro sempre das iniciáticas fórmulas de Harmonia, Melodia e Ritmo; Amor, Verdade e Justiça; Beleza, Bondade e Verdade, etc., etc. Ademais, o próprio termo “Idade de Oiro” se ajusta à cor da matéria Sattvica, que é o amarelo-ouro!
                E é assim, que nem sempre a música melodiosa agrada às naturezas passionais, mas sim, à emocional, porque provoca os sentimentos estéticos de aparente felicidade. As maiores melodias que o povo prefere, são as encerradas nas canções populares, que refletem tanto as alegrias, como os pesares, as esperanças e as paixões de um país... e levam séculos para serem formadas.
                Nenhum povo do mundo possui canções dessa natureza, como Portugal, Espanha e Brasil, e demais nações da América latina, justamente por serem daquela origem (ibérica), onde além do mais – quer queiram ou não os contrários à nossa opinião – predomina o sangue “árabe”, cujas desérticas canções... são de natureza puramente espiritual!...
                A Música de ordem artística mais elevada, começa pelo princípio harmônico. Tal espécie de Música age não somente sobre as mais elevadas emoções, como sobre o Intelecto. O Ritmo é uma manifestação puramente física. A Melodia, que sem determinado fim, nenhum sentido possui, é uma simples série de sons... que conduz nossas emoções de um lado para outro... A Harmonia, porém, afeta, simultaneamente, o Coração e a Mente. Sim, porque, a Harmonia é a própria Lei da Natureza. E com a combinação dos princípios harmônicos e rítmicos, são formadas todas as coisas dentro da Criação.
                A HARMONIA estimula no homem o amor ao Belo e faz vibrar nele uma célula correspondente ao seu idealismo. Ouvir uma Sinfonia, é proporcionar imensa energia mental. Ouvindo-se as composições dos grandes Gênios, goza-se de uma música divinizada, que nos conduz aos reinos místicos da mais transcendental espiritualidade. A grande Música não requer apenas compositores que tenham penetrado no mundo Intuitivo, para poder compô-la, mas também, de artistas criadores de primeira ordem que a saibam interpretar.
                Em verdade, nossa Música espiritual deve ser a Síntese das demais, desde que seja reproduzida em instrumentos capazes de emitir notas de um matiz mais delicado que o das outras, a que estão acostumados a ouvir os auditórios ocidentais. Tal acontece com as músicas hindus, egípcias, árabes, etc., etc.
                O amante da música emotiva deverá dar preferência às de Schubert, Weber, Schumann, Mendelssohn, Chopin e poucos mais dos melhores românticos que se conhece. Ouvindo a Beethoven e a Brahms, experimenta-se um sublime sentimento e uma excelsa aspiração. Com Bach, se tem a impressão de estar construindo uma catedral de pedra e cal. Com Tchaikowsky, o mestre que sabe dar colorido aos sons, é-nos possível, quase, desenhar imagens tão brilhantes como as etéricas luminosidades do Arco-Íris. O Espírito da Música criada pelo gênio adorável de Ricardo Wagner, é impossível analisar-se fora de sua própria poesia, pois, como disse ele: “Cresceram juntas”... Foi Wagner, provavelmente, quem mais se aproximou, dentre todos os compositores, das mais sublimes emoções da humana natureza.
                Como vemos, a Música exerce influência poderosa na educação Emocional, Mental e Espiritual do gênero humano. Debaixo de sua misteriosa influência, a humanidade pode agitar-se comovida por múltiplas emoções. Pode ir do mais baixo ao inferior, ao mais alto ou superior. Pode fundir-se na voluptuosidade de uma música sensual e rasteira, como é, por exemplo, a dos “jazz”, etc., ou escalar os mais altos cimos espirituais, onde se encontra o Eu... E daí, extasiar-se na mística União com o Todo!
                Como já foi dito, entre os grandes Gênios inspiradores da Humanidade, destacam-se Wagner e Beethoven. Wagner, através de seu drama litero-musical, como um gigantesco comentador dos Edas – ou Vedas escandinavos – como sejam: O Anel de Nibelungo, O Oiro do Reno, Valquiria e Sigfredo, Os Mestres Cantores de Nuremberg, Parsifal, Lohengrin, etc., imprime na Música toda a Epopéia grandiosa das iniciações humanas, através da Vereda da Vida.
                Quanto ao “menino prodígio”, com o nome de Wolfgang de Amadeu Mozart, seria o protótipo desses excelsos Filhos da “Divina Arte”, se não houvesse cometido o grande erro de musicar o “D. João”. A Lei não poderia jamais perdoar ao autor do “Desposorio de Figaro”, de “A Flauta Mágica”, das “33 Sinfonias” e um sem número de músicas clássicas, emprestar seu talento para consolidar, ainda mais, os falsos e tenebrosos alicerces do Amor inferior, que há milênios domina o mundo! Daí, três misteriosos seres, que o procuraram para que compusesse seu próprio “Requiem”, como provam estas suas palavras: “Dentro em breve esta música será cantada nos meus funerais”. E assim foi!... Bem razão teve o grande Roso de Luna em afirmar no seu valioso trabalho intitulado “Cuando se muere”: “Todo aquele que traz missão elevada, mas que, por um motivo qualquer, não afina consigo mesmo, com a sua missão, morre!    Não importa como, porém, é forçado a deixar o mundo!”... Infelizes, por sua vez, Molière e Byron, dando vida e realce à figura sinistra de quantos D. Joãos por aí existem, desde que a Humanidade se dividiu em sexos.
                Enquanto isso, um Guerra Junqueiro, por exemplo, procura destruir o pesado madeiro do Sexo, que desde idades sem conta faz cair por terra essa pobre humanidade a que pertencemos. De fato, na nota final da “Morte de D. João”, o excelso poeta, anunciando a sua Trilogia, revela bem nítido e claro, o pensamento do seu “Prometeu”: “Depois da negação, a afirmação. Depois de ter destruído o Mal, simbolizado nessas duas figuras grandiosas – D. João e Jehovah – é necessário afirmar a justiça encarnada em duas figuras sublimes: Cristo e Prometeu. É a Ciência e a Consciência, a liberdade e a fé, o sentimento e a razão. Quando esses dois termos do espírito humano, há tantos séculos afastados, se fundirem numa harmonia completa, o homem desde esse momento será justo, será bom, será feliz”...
                Do mesmo modo, na arte musical, foi Beethoven quem levou a palma da Vitória sobre os demais, até o fim de sua vida de Iniciado. Ele não foi apenas o maior músico e mais puro artista que existiu. Foi o generoso coração ferido de todos os infortúnios, que se fez mais forte do que todos eles, consagrando sua vida às gerações futuras!
                Tal como os Cristos e Budas, que deixam após suas passagens por este planeta de dores em que vivemos, seus corpos celestes, o perfume de suas vidas santas e potentes, para que a Humanidade se auxilie mutuamente, nessa constante luta por ascender ao Divino, Beethoven deixou-nos, também, seu corpo e sua alma no que de prodigioso existe em suas Nove Sinfonias. Elas representam, não só uma Benção para os homens, como uma prova palpável de que, por maiores que sejam as dores que nos afligem, haverá sempre uma porta aberta por onde nos poderemos elevar para os céus e participar, internamente, da gloriosa ALEGRIA que ali existe. A sua Décima Sinfonia, que o mundo desconhece, por ter sido escrita em língua sagrada ou “Jina”, é bem a Décima Sephiroth cabalística – Malkuth, ou o REINO – por ser justamente para onde evolou a sua alma de Artista incomparável: o Reino da Verdade!...
                E assim como ele, que soube transformar uma vida de dores, acalentado por seu próprio Gênio, numa extasiante Alegria, que o conduziu – herói entre os heróis envolvido pela Harmonia das Esferas – assim deverá ser a Alegria que devemos buscar: a do Humano Titanismo.
                Tal como a ave que necessita lançar-se no espaço, sem as limitações da gaiola, onde a mão impenitente do homem a lançou; para termos a consciência do Infinito, necessitamos romper todas as barreiras de nossa gaiola (ou jaula), que é a nossa personalidade limitada, a fim de podermos voar ao Infinito e sermos banhados no brilhante Mar das Auras dos Deuses e dos Gênios Protetores da Humanidade!...
                E com isso, termino a minha série de Três conferências, num Acorde perfeito de Três Notas dentro da mesma oitava (ou uma semana para cada uma delas), como se tivesse aberto a porta de minha própria jaula, para vos mostrar um rico vergel, que por breves instantes contemplamos juntos.
                Desgraçadamente, o tempo não nos permitiu percorrer seus agrestes caminhos... E muito menos, provar de seus saborosos frutos, miraculosamente amadurecidos pelo Sol. Aspiramos, apenas, as extasiantes emanações, que de suas flores a brisa nos quis trazer. E mui de longe, pressentimos o gorjeio argentino de seus pássaros!...
                E como sejamos forçados a cerrar novamente a porta dessa jaula tão grosseira, para volvermos aos calabouços da tarefa obrigatória, continuemos, amigos e irmãos queridos, como míseros escravos de uma civilização imperfeita, que fez do Trabalho um castigo e do Amor um pecado...
                 Quanto ao vergel, outro não é, senão, o da Sabedoria dos deuses, donde saíram os caminhos da Ciência profana. E também, os da Arte, pela implícita INTUIÇÃO filosófica, que a mesma encerra. Sempre que puderdes, vinde gozar conosco nesse vergel, que é bem semelhante aos Jardins da Academia de Platão.
                Vinde embriagar-vos de entusiasmo, nesse vinho espiritual que purifica, ao invés de embrutecer, pois, é ele preparado com a Ambrosia dos deuses. E então, acabareis um dia ouvindo e obedecendo à Voz de vossa própria Consciência, que é a da INTUIÇÃO, de que foi assunto o humilde Trabalho que hoje vos ofereço, não só pelo amor e respeito que me mereceis, como o dever que se me impõe de concorrer para a vossa verdadeira felicidade, que é a Espiritual.
                Vitam impendere Vero, isto é, A Vida inteira a favor da Verdade!...

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