O Amor
Caetano Veloso
(Sobre um poema de Vladimir Maiakovski)
Talvez quem sabe um
dia
por uma alameda do
zoológico
ela também chegará
ela também chegará
Ela que também amava
os animais
entrará sorridente assim como está
entrará sorridente assim como está
na foto sobre a
mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que
na certa eles a ressuscitarão
O século trinta
vencerá
o coração destroçado
já
pelas mesquinharias
pelas mesquinharias
Agora vamos
alcançar
tudo o que não podemos amar na vida
tudo o que não podemos amar na vida
Com o estelar das
noites inumeráveis
Ressuscita-me
Ressuscita-me
ainda que mais não
seja
porque sou poeta
porque sou poeta
e ansiava o
futuro
Ressuscita-me
lutando contra as
misérias do cotidiano
ressuscita-me por isso
ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver
o que me cabe
minha vida
minha vida
para que não mais
existam amores servis
Ressuscita-me
para que ninguém mais
tenha de sacrificar-se
por uma casa, um buraco
por uma casa, um buraco
Ressuscita-me
para que a partir de
hoje
a partir de hoje
a família se transforme
e o pai
seja pelo menos o Universo
e a mãe
seja no mínimo a Terra
a Terra
a Terra...
a partir de hoje
a família se transforme
e o pai
seja pelo menos o Universo
e a mãe
seja no mínimo a Terra
a Terra
a Terra...
Nenhum comentário:
Postar um comentário