segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O AMOR



O Amor
Caetano Veloso
(Sobre um poema de Vladimir Maiakovski) 


Talvez quem sabe um dia
por uma alameda do zoológico
ela também chegará
Ela que também amava os animais
entrará sorridente assim como está
na foto sobre a mesa
Ela é tão bonita
Ela é tão bonita que na certa eles a ressuscitarão 

O século trinta vencerá
o coração destroçado já
pelas mesquinharias 

Agora vamos alcançar
tudo o que não podemos amar na vida 

Com o estelar das noites inumeráveis
Ressuscita-me
ainda que mais não seja
porque sou poeta
e ansiava o futuro 

Ressuscita-me
lutando contra as misérias do cotidiano
ressuscita-me por isso 

Ressuscita-me
Quero acabar de viver o que me cabe
minha vida
para que não mais existam amores servis 

Ressuscita-me
para que ninguém mais tenha de sacrificar-se
por uma casa, um buraco 

Ressuscita-me
para que a partir de hoje
a partir de hoje
a família se transforme
e o pai
seja pelo menos o Universo
e a mãe
seja no mínimo a Terra
a Terra
a Terra...

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