quarta-feira, 16 de outubro de 2013

A Volta dos que não Foram



A Volta dos que não Foram


C
onta-se em longínquas plagas, à boca miúda, que a reencarnação daquele que recebeu o mero título de “O Paraibano do Século”, o escatológico poeta Augusto dos Anjos, de quem o original marginal cantor e compositor Chico Viola compôs 16 músicas retiradas do seu único em vida publicado livro, “Eu”, foi inexplicavelmente banido da mágica filipéica urbis pessoense, durante a gestão governamental dos excelentíssimos senhores do tucanato estadual, lá pelos anos primevos do vintium.

Motivo: não sabia que todo o estado da Parahyba era considerado de proteção ambiental, desde Tambaba (lenda indígena) ao sítio arqueológico da Pedra do Ingá. Não passou no teste, crivo crítico dos que não sabem criticar construtivamente. Foi considerado persona non grata também pelo fato de não saber encantar com seus versos (ainda que continuasse um bardo de mão cheia, mesmo que desconhecido) a primeiríssima dama de um juiz federal que sonhara ser deputado em Rondônia.

Seu ex-filho, destinado a ser um grande guardião, foi em outras épocas um centurião das hostes gregas e teve agora participação no episódio, perdoado como só os deuses sabem amar e perdoar a sua humanidade, carente de amor, sabedoria, justiça e paz. “O mal é bom e o bem cruel”. Vá entender o que ele me falou. O mal ensina, o bem também, uma oitava acima. “Tudo demorando em ser tão ruim”. O sertão sem tao. Compreenda-se.


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O degredo em segredo deu-se, todavia, em função de sua não
aderência à politicagem, sendo veladamente ameaçado, o que veio a
descobrir através de fontes extra-físicas, paralém d’alma. Sem calma,
correu sedento e pediu auxílio às nuvens do amanhecer do céu para escapulir de um escalpo qualquer. É brincadeira.

Cometeu outro grande pecadilho: solteirissimamente, a rédea solta, cachorro grande, selvagem, conseguiu engravidar - à mesma época - quatro privilegiadas donzelas, as quais, malheuresement (falta acento aí), não assim se o consideraram, desconhecedoras da realeza nobiliárquica do brasileiríssimo vate reencarnado.

Pregava pelas ruas a moeda única para o planeta (este em constante destruição e construção, mais destruição que construção, até construção é destruição). Não apedrejaram-no, mas quando recitara num shopping-center (templo das novas gerações – “jovens, envelheçam!”) o poeminha abaixo que não é seu, mas do professor Raimundo Cerqueira, cachoeirense de primeira, escrito na língua do futuro, foi “convidado” pelo segurança a retirar-se do símbolo-mor do capitalismo hodierno, o grandioso estabelecimento comercial:

A Terra
teve seu parto normal
Nós é que abortamos tudo
ou quase tudo

...E os coniventes
enterram seus fetos...

Seu próximo livro denominar-se-á, segundo disse a um grande amigo oculto, “D’Eus”.

LUIS CÉSAR DE SOUZA,
in "Música Muda"

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